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AGRO EXPERIENCE

Agricultura irrigada e o avanço da produção brasileira para os próximos 30 anos

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Publicado: Quinta, 11 de Agosto de 2022, 00h49 | Última atualização em Quarta, 17 de Agosto de 2022, 08h03 | Acessos: 1291

Expectativa é de que até 2050 a produção mundial de alimentos precise aumentar 60%. Irrigação é fundamental para alcançar a meta

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A tarde desta quarta-feira, 10 de agosto, no terceiro dia de Ceagre Agro Experience, foi iniciada com a palestra Gestão de recursos hídricos e produção sustentável de alimentos, ministrada pelo Dr. Lineu Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados, sediada em Brasília (DF). Em uma apresentação com muitos dados e rica em informações, Lineu expôs verdades dificilmente faladas em público. Uma delas: há muita água disponível para a agricultura. Outra: sem o avanço da agricultura irrigada será impossível alimentar o mundo em 30 anos.

A fala do pesquisador, que teria o potencial de incomodar muita gente com pouca informação sobre o assunto, teve o cuidado – justamente por isso – de trazer dados publicados e referenciados em revistas de alto fator de impacto. De início, ele apresentou mapas comparativos do território brasileiro, com áreas urbanas, agrícolas, massas d’água e polos de irrigação. A primeira informação dali depreendida é de que as áreas ditas urbanas no País, onde residem 80% da nossa população, representam apenas 0,63% do território.

Dito isso, observa-se que no Brasil há muito espaço para produzir, e produzir bem. “O Brasil é um grande território agrícola. E isso a gente faz bem. Muitas vezes temos vergonha em falar isso. No Brasil a gente faz bem a agricultura, nós produzimos alimentos com sustentabilidade”, afirmou Lineu, categórico. E emendou: “Somos bons para produzir, mas é preciso haver uma política de estado para gestão de recursos hídricos. Temos que usar bem e de forma estratégica esse recurso”.

De acordo com dados bastante aceitos na comunidade científica, a expectativa é de que até 2050 terá de ser produzido, no mínimo, mais 60% de alimentos em relação ao ano de 2010, a fim de sustentar a população mundial. Para o pesquisador, o Brasil é um dos (poucos) países do mundo que pode fazer isso com sustentabilidade. E, para isso, será fundamental haver uma política de estado – e não de governo – para gestão de recursos hídricos.

Lineu provoca: “Por que precisamos de produzir mais alimentos?”, e de pronto já elenca alguns motivos. O primeiro deles, já exposto, é o crescimento da população mundial. E, embora a população brasileira em si esteja diminuindo, o pesquisador lembra que estamos em um mundo globalizado, com corresponsabilidades. Além disso, há as pressões externas, como o impacto das mudanças climáticas, com o estresse térmico que, inevitavelmente, impacta a produtividade, o que acarreta a redução de alimentos e aumento dos preços.

E o principal desafio para produzir mais alimentos é a água, que, conforme explica Lineu, está ficando cada vez mais incerta a partir das mudanças climáticas. “Os modelos com que trabalhamos ainda são muito inconclusivos, mas já vemos que as chuvas estão ficando cada vez mais concentradas. Para hidrologia isso não é ruim, mas para a produção de alimentos, é”, mostra ele, ao fazer uma comparação com nossa própria necessidade de alimentação – não adianta comermos de uma vez só uma grande quantidade de comida, é necessário a quantidade adequada todos os dias. Logo, chuvas concentradas não são úteis, e muitas vezes maléficas, para as culturas, sejam quais forem.

Afirmando que “a irrigação é o melhor seguro agrícola para o produtor”, Lineu trouxe um painel com os dados atuais da produção agrícola nacional. Os dois tipos de agricultura, o sequeiro e a irrigada, ocupam, respectivamente, 238,7 milhões de hectares e 8,2 milhões de hectares. Em porcentagem, a agricultura sequeira representa 96,7%, sendo os outros 3,3% ocupados pela agricultura irrigada. Ele aponta que ambas as agriculturas utilizam água da chuva, com diferença de que, nos momentos em que não há precipitação, a irrigada conta com a água proveniente dos rios (água azul). O aumento de produtividade é considerável, a depender da cultura. A título de exemplo, no caso do arroz, têm-se um rendimento 3,7 maior. O trigo, por sua vez, produz duas vezes mais.

“Duas coisas que precisamos para agricultura irrigada: água e energia. E hoje em dia falamos de agricultura 4.0, o que é muito interessante, mas nossa energia ainda é ruim no campo, em grande parte do Brasil”, chama atenção o pesquisador, mostrando que ainda há elementos básicos que necessitam de atenção. São desafios que caminham juntos e precisam ser superados. “Não conseguiremos atingir esses patamares de produção de alimentos para o mundo sem a irrigação. A sustentabilidade da produção de alimentos está diretamente relacionada à boa gestão de recursos hídricos na água azul”, diz Lineu.

Para o pesquisador, além do óbvio aumento de produtividade, há outros quesitos que podem ser observados quando se opta pela agricultura irrigada. Falando, ainda, em produção, têm-se também a estabilidade, que reduz os efeitos climáticos e permite planejar com segurança, a oportunidade para produção de determinadas culturas, a efetividade de se produzir durante todo o ano em locais em que isso, pelas condições naturais, seria impossível, e, claro, a qualidade do produto final.

Ainda há razões correlatas: a geração de empregos nas lavouras – em média, até seis postos de trabalho por hectare, o consequente desenvolvimento social e econômico da região, e o impacto ambiental. “A agricultura intensificada pela irrigação reduz a demanda por abertura de novas áreas. Se acabassem as áreas irrigadas no mundo, seriam necessários mais 300 milhões de hectares”, explica Lineu. Sobre isso, o pesquisador é taxativo: “Não existe conflito entre produzir alimentos e meio ambiente. Para se conseguir produzir alimentos é preciso ter um meio ambiente forte, saudável. O que precisamos fazer é dar segurança hídrica, jurídica, para os nossos produtores poderem produzir com qualidade”.

Os dados falam por si. Lineu mostra que, quando se produz uma cultura com a irrigação, uma parte da água vem da chuva. E, ainda assim, o uso total é baixo. “No Brasil usa-se cerca de 2.000 m³/s de água, para tudo, e 52% disso é para a irrigação. Se somarmos todas as águas dos nossos rios, teremos aproximadamente 280.000 m³/s de água”, informa, para comparação. “Em geral usamos pouca água: temos cerca de 8,5 milhões de hectares irrigados, e podemos chegar a 55,85 milhões. A projeção até 2040 é de 4,2 milhões de hectares”.


Avanços necessários – Lineu explicou que, no Brasil, grande parte da água advinda das precipitações (36%) retorna aos mares. Mesmo que seja o curso natural, é possível aproveitar parte dessa água para o desenvolvimento econômico e social. Uma solução é a construção de pequenas barragens, formando reservatórios para aumentar a disponibilidade hídrica. “Assim, você passa a ter mais água para produzir”, explica. Outro ponto apontado por ele é melhorar a disponibilização das informações, extremamente pertinentes, para o público diretamente envolvido e a população em geral, trabalhando a desmistificação da temática irrigação e uso dos recursos hídricos. “Comunicar mais, de forma acessível”, opina.

Por fim, trabalhar a articulação política, fundamental para destravar processos e promover a atualização de marcos legais, muitos deles existentes em duplicidades ou datados de meados do século passado. “Nossos políticos muitas vezes não estão bem subsidiados para tomarem decisões, e precisam ser mais bem orientados. Hoje temos instrumentos melhores, mais novos. Podemos fazer melhor”, afirma Lineu Rodrigues, e conclui: “Precisamos trazer segurança hídrica e energética para os produtores”.

 

 

COMUNICAÇÃO SOCIAL Campus Ceres, especial para o Ceagre Agro Experience
(Republicada com correção de informações em 12.08.2022, às 16h18)

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