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Curso do Mulheres Mil se inicia discutindo os direitos das mulheres

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Publicado: Sexta, 02 de Novembro de 2018, 15h19 | Última atualização em Sexta, 19 de Abril de 2019, 21h16 | Acessos: 732

Aula inaugural do curso de Panificação, última oferta do programa em 2018, abordou a origem do preconceito contra as mulheres e as ações ao longo da história para superá-lo

Por Tiago Gebrim
Fotos: Tiago Gebrim

 

 

O Campus Ceres do Instituto Federal Goiano (IF Goiano) realizou nesta quarta-feira, 31 de outubro, a aula inaugural de mais uma edição do Programa Mulheres Mil. As ingressantes participarão do curso de formação inicial em Panificação, última oferta do programa dentro do ano de 2018. O evento ocorreu na própria unidade, durante o período noturno.

Abrindo a solenidade, teve fala a coordenadora local do Mulheres Mil, a assistente social do Campus Ceres Cláudia Barros. Ela agradeceu à gestão da unidade e da Reitoria por viabilizarem recursos para oferta de mais uma edição do programa, e enfatizou a contribuição dele para melhoria de perspectiva da vida das participantes.

O diretor-geral do campus, Cleiton Mateus, destacou que as participantes do programa são estudantes regulares da Casa e, portanto, tem direito a usufruir toda a estrutura do IF Goiano, que é um diferencial na região. Mateus aproveitou para sensibilizar a plateia acerca da pertinência e importância de defender os Institutos Federais e a continuidade de investimentos na Educação Pública como um todo.

A mesa diretiva teve participação, ainda, do pró-reitor de Extensão do IF Goiano, Sebastião Nunes Filho. Em seu discurso, narrou brevemente a história da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, criada em 1909 e fortemente expandida na última década, alcançando hoje presença em mais de 600 municípios brasileiros. Nunes tratou da importância de se consolidar o Programa Mulheres Mil, tornando-o uma referência para o reingresso de mulheres em situação de vulnerabilidade aos estudos e possibilitando sua reinserção no mercado de trabalho.

O pró-reitor ainda destacou o pioneirismo do Campus Ceres em diversas ações de extensão e agradeceu a equipe por aceitar o desafio de realizar duas edições do programa no ano, ao mesmo tempo em que a unidade segue desenvolvendo e ampliando atividades em diversas outras áreas. Conforme Nunes, essa atuação segue o direcionamento do IF Goiano, em ultrapassar o mínimo estipulado para alcançar resultados de excelência para a sociedade.


A conquista de direitos das mulheres ao longo da história – Para ministrar a aula inaugural foi convidada a historiadora e docente do Campus Ceres Natália Louzada, que abordou o tema Feminismo e as conquistas de direitos das mulheres. Em uma fala clara e contextualizada, a docente abordou como nasceram e foram reforçados os preconceitos contra as mulheres ao longo da história. Paralelamente, trouxe os principais marcos de rupturas, realizadas por mulheres que em diferentes épocas decidiram por não aceitar a situação de subjugação pelo poder masculino.

Louzada apresentou o conceito de sororidade, que relaciona-se a uma atitude de apoio mútuo e irmandade entre as mulheres, contrapondo-se ao imaginário social em voga, de que mulheres devem ser competitivas entre si. Ela relacionou a sororidade como a atitude responsável por garantir a união das mulheres em torno de objetivos comuns e a consequente conquista de direitos por elas.

A palestrante teve o cuidado de desmistificar o feminismo enquanto filosofia e o movimento feminista, atualmente maculados por parte da sociedade e erradamente relacionados a posicionamentos violentos e excludentes. Louzada traduziu o feminismo em ações, embasada em exemplos como o de Christine de Pizan, considerada a primeira mulher a ter a escrita como profissão, no mundo ocidental. Pizan viveu no século XIV e já na época usava de suas obras para questionar “causas e motivos que levam os homens a maldizer as mulheres e a condenar suas condutas”.

Outros nomes vieram à tona durante a apresentação, como o de Olympe de Gouges, que viveu na segunda metade do século XVIII e foi a responsável por conceber a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, uma contraposição à carta de direitos surgida após a Revolução Francesa e que excluía como portadores de direitos as mulheres e os escravos. A inglesa Mary Wollstonecraft, por sua vez, publicou em 1972 Uma defesa dos Direitos da Mulher, influenciada por Gouges. Sua obra defende, entre outros pontos, que as mulheres não são inferiores aos homens, mas aparentam sê-lo por lhes ser privado o direito à educação formal.

Gestado ao longo dos séculos, o feminismo chegou ao século XIX como um movimento social, tendo como principal bandeira o direito das mulheres ao voto nas diversas democracias ocidentais. As diversas manifestações ficaram conhecidas como movimento das sufragistas, e ocorreram ao redor do globo. Contudo, somente tiveram visibilidade após uma de suas integrantes decidir sacrificar-se, durante um protesto em uma corrida de cavalos, atração típica na Inglaterra da época. Como repercussão, as sufragistas foram notícia em diversos países europeus, chegando até a América do Norte. A primeira nação a reconhecer o direito feminino a votar foi a Nova Zelândia, em 1893. Nos Estados Unidos, o voto das mulheres ocorreu pela primeira vez em 1920.

 


A docente Natália Louzada, que ministrou a aula inaugural do curso de Panificação

 

Direitos das mulheres no Brasil – No caso brasileiro, o movimento em prol dos direitos das mulheres foi oficializado inicialmente com a criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 1922. Naturalmente, já havia antes dessa data mulheres preocupadas com a reivindicação de seus direitos. Um exemplo é o da escritora e educadora Nísia Floresta, considerada primeira feminista brasileira. Já em 1831, durante o Brasil Império, Floresta escrevera um livro sobre as desigualdades entre mulheres e homens, baseada na leitura de Wollstonecraft.

O primeiro código civil do Brasil República, criado em 1916, trazia que a mulher era relativamente incapaz, e que precisavam da autorização do marido para estudar, trabalhar, realizar compra e venda e receber herança. Não bastasse isso, eram submetidas a “verificação de virgindade” pelo marido, que usavam dessa prerrogativa para desfazerem os casamentos que não os agradassem, submetendo a mulher a humilhação perante a sociedade.

Graças ao trabalho da Federação, contudo, houve diversas lutas entre as décadas de 20 e 30 pelo direito à educação, ao voto e à liberdade plena das mulheres. Em 1932, por ocasião de algumas mulheres da associação transitarem em círculos de poder comum ao do então presidente Getúlio Vargas, o Brasil reconheceu legalmente o direito feminino ao voto. Antes disso, houve momentos episódicos. O primeiro refere-se a 1981, pouco após a Proclamação da República, quando houve o primeiro pedido do direito ao voto, rejeitado amplamente pela classe política. Já em 1910 as mulheres conseguiram registrar um partido feminino, ainda que não pudessem votar.

O caso mais emblemático, contudo, ocorreu no estado do Rio Grande do Norte, em 1927, quando houve eleição da primeira mulher da América Latina para um cargo do poder executivo. A fazendeira Alzira Soriano, então com 32 anos, foi alçada a candidata à prefeitura do município de Lages, e venceu o pleito com cerca de 60% dos votos. O feito foi possível graças a brechas da constituição estadual, que possibilitava o voto e candidatura femininos. Sua eleição gerou reprimendas e uma reanálise dos documentos legais, ocasionando sua destituição sete meses depois. Ainda assim, sua eleição entrou para a história como um marco nos direitos femininos em todo o continente.

Ao fim de sua exposição, a professora Natália Louzada contextualizou a importância do prosseguimento da luta feminina no Brasil, que hoje ocupa a quinta posição em homicídios de mulheres no mundo. Somente nos primeiros seis meses de 2018, foram quase 145 mil casos por todo o território nacional. Para ela, a existência de ações como o Programa Mulheres Mil é prova de que ainda há mulheres em situação de vulnerabilidade no País, e que precisam ser empoderadas critica e politicamente. “O feminismo acontece aqui, quando a gente conversa, quando nos apoiamos”, finalizou a pesquisadora.

 

 

 

Ascom Campus Ceres

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